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ENTRE TAPAS E BEIJOS: A VIOLENCIA ROMANTIZADA



Foi fila do banco que ele explodiu na frente de todos: "Nunca vi mulher mais burra!"


Sofreu aquela violência em silêncio, ele só estava nervoso pelo dia ruim, isso é normal.

Ele chegou alcoolizado, ela reclamou e levou um chute, ele bebia para aliviar a cabeça, isso é normal.

Foi visitar os pais e o marido não quis ouvir suas explicações, quebrou seu celular e lhe deu uma surra, mulher precisa dizer ao marido onde vai, ele era seu homem, isso é normal.

Com o corpo ainda dolorido ele a beijou e disse que a surra foi merecida, deveria saber que ele a amava, que o mundo era perigoso e todos os homens a queriam foder, estava ali para proteger seu lar, e foi tirando sua calcinha e penetrando em sua buceta ressequida e sem desejo, puxando os cabelos bateu na sua bunda dizendo que mulher teimosa precisava apanhar na cama para saber quem mandava. Era esposa, ela pensou, ele tem esse direito de me foder, isso é normal.

No outro dia, mal conseguiu se levantar da cama, todo seu corpo era dor, mas era sábado, ele gostava de jogar futebol com os amigos. Viu no telefone dele uma mensagem de nude de outra mulher, questionou o que era aquilo, ele sorriu e disse que um homem precisa de uma mulher de verdade, e nisso ela não chegava nem perto.



Homens tem necessidades que nem sempre as esposas podem suprir, ele disse, isso é normal.


Sozinha, pois todos se afastam quando o mundo está errado, ela aceitava aquela violência com esperança de que um dia o seu amor bastasse, que um dia sua fé fosse o suficiente, que um dia suas orações seriam atendidas, ele era seu sonho de família. Isso era normal.

Foi buscá-lo no trabalho, um amigo dele a elogiou e ela sorriu. Em casa precisou explicar ao marido aquele elogio, ele não acreditou, bateu tanto nela que ela desejou não acordar mais daquele pesadelo.


Foi naquela noite, em meio a gritos de vagabunda para todos ouvirem que ela morreu.

E se foi se tornando mais uma estatística em um país dominado pelo masculino tóxico. E todos disseram: isso é normal.

E seguiram ignorando a realidade de um país onde ser mulher sempre machuca.

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